"O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consequências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos estão abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta a cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Toda a vida espiritual, intelectual, parada. O tédio invadiu todas as almas. A mocidade arrasta-se envelhecida, das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, crece. As falências sucedem-se. O pequeno comércio definha. A indústria enfraquece. A sorte dos operários é lamentável. O salário diminui. A renda também diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. Neste salve-se quem puder a burguesia...explora. A ignorância pesa sobre o povo como uma fatalidade. A intriga política alastra-se. O país vive numa sonolência enfastiada.
Não é uma existência, é uma expiação."
(trasncrição do início do primeiro livro das farpas, escrito por Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão e publicado no dia 17 de Junho de 1871)
Não estará actual? A verdade é que este texto foi escrito no séc. XIX e ainda nos dias de hoje, em pleno séc. XXI faz todo o sentido! Pensem e actuem agora. Temos que acordar deste sono profundo e revolucionar o mundo com as ideias que fervilham na nossa cabeça. Não deixemos que esta sociedade modorra nos paralise. Vamos seguir em frente e lutar pelos nossos ideais!
Se não dissesses que era de Eça de Queirós, passava como um texto de um qualquer autor contemporâneo. E isso não é por acaso, a sociedade avança mas há certos problemas que se prolongam de geração em geração. O teu comentário é um óptimo complemento, pois muitas vezes as pessoas não percebem que para haver mudança ela tem que começar e vir de dentro de nós.
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